sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Quem é a população de rua?


A situação de rua é um dos maiores reflexos da política neoliberal atual, que tem adotado medidas que levam cada vez mais ao desemprego, condições precárias de sobrevivência, à destituição de direitos sociais, à desigualdade de renda, dentre outros, que geram essa pobreza e desigualdade crescentes. Ao mesmo tempo, é a parte da população que vivencia mais de perto esse processo de empobrecimento, os mais intensamente atingidos. São exatamente exemplos vivos da exclusão.
É importante reparar que esse processo de formação de uma população de rua existe a séculos, mas podemos dizer que hoje em dia toma um rumo mais acelerado e com características peculiares devido à urbanização e à globalização. Podemos considerar que “a população de rua pode ser entendida como um conjunto de homens e mulheres que vivem em situação de extrema pobreza. São sujeitos sociais procurando nas ruas alternativas para manter sua sobrevivência” (Souza, apud Vieira, 2004). Cabe ressaltar ainda, que trata-se de um grupo completamente heterogêneo no seu modo e motivo de viver na rua.
Pensar nos moradores de rua é pensar em como eles se inserem nessa condição, quais os motivos para isso, o que eles representam diante do nosso atual contexto sócio-político-econômico. Ainda são vistos de maneira errônea como desocupados, marginalizados.
Ao se referir a eles, deve haver, no mínimo, indignação. Quando procuramos saber os motivos das pessoas estarem nas ruas, percebemos que há um problema estrutural global que vai além dos problemas individuais. A miséria tem sua origem, que não pode passar despercebida e sem crédito nenhum. A chamada população de rua virou parte do cenário das cidades e invisíveis, contraditoriamente, aos nossos olhos. Os moradores de rua têm histórias que de alguma forma explicam o rumo que tomaram, às vezes por “livre escolha”, outras por falta de opção. São pessoas que correm riscos a todo o momento pela falta de segurança em estar na rua.
Se existem aqueles que realmente poderiam deixar as ruas se quisessem, existe um número esmagador de uma maioria que não pode fazê-lo por motivos diversos. Como um dos próprios catadores de papel relata, "o desemprego é um problema social, até para aqueles que saem da faculdade e tem que entrar no mercado", quanto mais para aquele que é dependente químico, de mais idade, que não tem habitação fixa, não tem mais vínculo familiar, etc. Dados de Juiz de Fora calculam que 50,1% tinham casa própria e dentre os motivos que os levaram à situação de rua estão o Desemprego (54,8), Conflitos familiares (12,5%), Por falta de moradia (2,2%) e Dependência química (1,2%). Considerando a dificuldade de retomada desses fatores, a situação se torna mais complicada.
Os catadores de materiais recicláveis são ainda bastante discriminados por seu trabalho, que na maioria das vezes é o único meio de sobrevivência para eles. Essas pessoas trabalham sem parar e ganham muito pouco por isso. Muitos trabalham por conta própria, separando os materiais recicláveis do lixo orgânico recolhidos em condomínios residenciais e públicos, o que caracteriza uma atitude de alto risco, devido à possibilidade de transmissão de doenças e presença de materiais cortantes.
Algo gritante que deve ser repensado por aqueles que não conhecem o trabalho do catador de papel é a visão de que eles são “catadores de lixo”. Apesar de procurarem os materiais nos lixos e no meio da rua e muitas vezes tomarem posse de objetos inutilizados, eles trabalham recolhendo materiais que podem ser reaproveitados e são vendidos aos depósitos. Mais do que isso: para recolher lixo, existem pessoas contratadas e pagas, muito diferente dos chamados catadores de papel.
Analisando entrevistas, percebemos com mais clareza que é uma realidade muito difícil e que, mesmo assim, muitos deles continuam de bom humor. São pessoas simples que optam por trabalhos difíceis para não se envolver em atividades ilegais para sobreviver, como o furto ou venda de drogas. Apesar da situação de invisibilidade, de trabalho desgastante e cansaço físico e mental, percebemos em alguns uma alegria de certa forma inexplicável, já que são pessoas que não têm mais esperança de sair dessa situação.
Há ainda dificuldade em perceber quem são essas pessoas.


(Adaptação do trabalho sobre a população de rua de Juiz de Fora)

REcomendo um documentário fantástico sobre a população de Juiz de Fora chamado "Esquinas":
http://video.google.com/videoplay?docid=5551872499509783746

Beijoss!! =D

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