domingo, 5 de julho de 2009

Artigo I - Prevenção da violência

Prevenção da violência: Um esforço individual e coletivo

“A cada 13 minutos um brasileiro é assassinado, a cada 4 minutos ocorre um delito no Distrito Federal e a cada 7 horas uma pessoa é vítima de acidente com arma de fogo no país”. Esses dados foram apresentados pela UNESCO e são alguns dos índices responsáveis pela entrada do Brasil no ranking das sociedades mais violentas do mundo, com altíssimos indicadores de violência urbana.

É possível perceber atos de alto grau de violência no mundo inteiro. Em 2001, explode o atentado de 11 de setembro que exaltou a sociedade mundial e mudou os rumos dos norte-americanos diretamente e indiretamente de todos os outros países do mundo - principalmente aqueles de forte presença muçulmana -, chamando a atenção para os atos terroristas. No ano passado e no atual, já pudemos presenciar invasões no Iraque por parte dos EUA, com milhares de mortes de ambos os lados. No Brasil, temos fatos que chocaram e revoltaram a população, como o do menino João Hélio em 2007 – arrastado por dois jovens -, da recente notícia da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto grávida de gêmeos que abortou, dos pais que atiraram a filha da janela de seu apartamento, do seqüestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro, dentre outras tantas notícias que não abandonaram as telas da TV durante um bom tempo.

Esses acontecimentos chamam a atenção da mídia de todo o mundo, mas existem outros que acontecem no anonimato e que são tão graves ou mais que os citados: a violência nas instituições educacionais, nos ambientes profissional e familiar, nos grupos de relações primárias em geral. Violências estas que podem ser físicas, verbais, psicológicas, infantis, culturais, contra a mulher, etc. Segundo a UNESCO, em São Paulo, quase 60% dos homicídios são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por motivos fúteis. É no acontecimento dessas pequenas agressões que se alimentam as grandes que vão parar no noticiário. Elas acontecem mais frequentemente do que podemos imaginar, sendo também motivo para a preocupação de toda a sociedade, que a alimenta a partir do momento em que age com agressão, mesmo que em níveis mais baixos, e permite que ela se incorpore no cotidiano e se transforme em banalidade, gerando um ciclo vicioso.

As causas da violência são as mais variadas, como por frustração ou fracasso, comportamento adquirido no meio inserido, insatisfação e revolta frente a injustiças sociais, culturais, políticas, estruturais, etc., desconhecimento de hábitos culturais e direitos humanos, gerando a intolerância, e principalmente o desrespeito, seja em qualquer nível, e complicações mentais patológicas.

É certo que a sociedade tem peso determinante no combate à violência, principalmente no controle individual, mas também é fato que deve haver uma preocupação governamental em relação à prevenção e combate às tendências violentas. As armas de fogo provocam um custo ao SUS de mais de 200 milhões de reais (UNESCO) e a estimativa é que existam 17 milhões de armas, sendo 49% legais, 28% ilegais de uso informal e 23% ilegais de uso criminal (Viva Rio, Small Arms Survey). Segundo o “Balas Perdidas”, 7,2% dos jovens envolvidos em crimes possuem de 12 a 15 anos e 30% dos homicídios e 3,2% dos estupros são cometidos por jovens. A área mais indicada de atuação é exatamente a da juventude, a qual passa por um processo de afirmação frente a sociedade e por conflitos psicológicos e biológicos característicos dessa faixa etária.

Sabendo da necessidade de intervenção do Estado, temos a urgência de Políticas Públicas, que são programas de ação do governo com o objetivo de organizar atividades que atendam às demandas da sociedade civil. Elas devem identificar os problemas, os atores e os diversos interesses e depois ser regulamentada para atingir da melhor maneira as dificuldades focadas. Organismos internacionais como a Unesco recomendam que pelo menos 1% da riqueza de um país seja aplicado no setor cultural. Dentro das Políticas Públicas, destacamos as Políticas Culturais como meio eficiente na prevenção da violência.

A cultura é um conjunto de costumes, tradições e valores que têm papel importantíssimo na formação da personalidade, no autoconhecimento, na descoberta da individualidade e na capacitação do indivíduo para conviver em sociedade. As atividades culturais podem ter um papel educativo mais eficiente do que os convencionais por usar métodos diferentes e por reunir pessoas que possuem interesses semelhantes a frente de um mesmo objetivo. Fazer parte - e se sentir parte - de um grupo de interesses tem influência fundamental nos hábitos, na ideologia pessoal, nas perspectivas de vida, no convívio social, nas oportunidade que surgem, etc.

Atividades como teatro, dança, canto, instrumento musical, artes plásticas, poesia, fotografia, grafite, dentre tantas outras, são ótimos agentes de integração. Elas trabalham autoconhecimento, convivência em grupo, integração de diferentes classes, auto-estima, disciplina, sexualidade, religiosidade, respeito, comunicação, saúde física e emocional, gerando a sensação de ser útil e a satisfação de conseguir superar dificuldades. Tudo isso interfere na motivação para mudança de hábitos, por exemplo, de indivíduos envolvidos em situações complicadas (de risco) que demandam força de vontade e sacrifício no seu enfrentamento.

Deve haver também a preocupação com o esclarecimento em relação a culturas vítimas de preconceito – como práticas religiosas, etnias, costumes estrangeiros -, em relação ao modo de lidar com as diferenças entre os gêneros masculino e feminino, informar sobre os direitos humanos e formas de afirmá-lo, enfim, dar todo o amparo instrutivo pelo qual o conhecimento possa fazer a diferença.

A questão da erradicação da violência depende basicamente da mudança individual, que só acontece em condições propícias, com oportunidades de pensar a si mesmo, de pensar a sociedade, de alcançar as consequências a curto, médio e longo prazo dos nossos atos. A instituição governamental pode e deve intervir nos meios de acesso de toda população a essas condições, principalmente nas áreas de risco. Pensando o ser humano como ser material, espiritual, intelectual, enfim, integral, poderemos avançar ou pelo menos estacionar os altos índices que expressam a violência brasileira, que atinge o 83º lugar mundial no ranking de países mais violentos do mundo.